quarta-feira, 13 de julho de 2011

Corolas Secas

(Imagem; Flor morta, autor desconhecido) 



É angústia a sombra derradeira,
Do agudo píncaro d’outeiro
Nutre a voz de dorido pranteio
Semeia ao solo pérfida roseira.

Neste vergel de corolas secas
Findam-se as cores da primavera,
Nascem assombrosas Quimeras
Destroçando a delicada seda.

Vai-se então por flume corrente
A alva pérola de saudoso júbilo
Qual vistosa fulgia fremente,

Brio fastuoso de colorido rúbio.
Estertora em fleuma silente
A acrimônia de seu mundo fusco.








Rio de Janeiro, 13 de julho de 2011.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

A dança das letras


(Imagem; A Leitora de Jean-Honoré Fragonard)



Eu quero a leveza das letras
Quais livres de leis se põem a bailar.
Por vezes se unem faceiras
Suscitam palavras de lerna e de mar.

Almejo a beleza dum verso
Que o ledo ardor me faça sentir,
O beijo sereno da brisa
Trazendo o sabor da musa a dormir.

Espero que desses dedos
Nasça o poema que irá descrever
O adejar dum pássaro negro
Qual cala sua ária sob alvorecer.

Não quero somente o belo,
As flores flamantes sob o sol,
Pois reina sorrateiro o flagelo
Na ambigüidade do arrebol.

Abraço as letras que fremem,
As lívidas cores do inverno
E vivas retumbam perene
Lancinante agrura de meu inferno.






                                                                                                                                                                            Rio de Janeiro, 29 de junho de 2011.


  
Caminhava eu por ruas
A ouvir o som da gaita,
E o gorjear das aves
Atassalhando o negro véu.

Questionando se algum dia
O picadeiro dos horrores,
Findará os dissabores
De minha quase-vida?



Duque de Caxias, 8 de julho de 2011.

domingo, 19 de junho de 2011

O despertar de Alice - Uma crônica

O despertar de Alice


Dizem que a cada despertar de uma alvorada, somos contemplados com uma nova possibilidade de reescrevermos o livro de nossas vidas. Para Alice, essa afirmativa era quase que crença irrefutável, um dogma divino a qual não se cabe questionamento ou ponderações vulgares, à nossa parca concepção racional.  Alice, como em todas as alvoradas recolhia do chão as sobras de seu ser, os cacos que desprenderam-se durante a fria e solitária madrugada, qual flagelou seu pensar.

Algo naquela branca manhã de outono não se comportava de forma apropriada, seria a luz, a se entrelaçar às copas das árvores num bailar faceiro entre as preguiçosas horas do solstício? Seria a brisa que acariciava com dedos gélidos sua carne pura e macia? Seriam as lembranças das desventuras passadas quais impregnavam sua mente com imagens ferrenhas e sentimentos ferinos? Ou ainda o calar repentino do saudoso canto das aves? Tais especulações pareciam resistir à luz de sua razão.

A jovem mulher não conseguia distinguir com precisão a realidade que a cerca, das insólitas figuras quais irrompiam às barreiras quase que membranosas das fantasias geradas por sua mente. Ao lado de seu leito, bem ali ao pé da cama repousava um objeto imóvel, o qual não se assemelha com nenhum outro que antes ali estava depositado. Sua janela entreaberta convidava o vento frio e ruidoso a entrar vagarosamente obrigando as cortinas a participarem de uma dança irregular e silenciosa, espalhava em seu reduto feminino o olor das perfumarias quais já faziam pareciam emanar de seu belo corpo juvenil. Lá fora um alvorecer tristonho se dobrava sobre o jardim de begônias e orquídeas secas, árvores despidas do verde, um jardim que renunciava lentamente à vida.

Alice não sabia o que deveria fazer levantar? Tentar volver ao sono e recuperar a consciência empós? Encontrava-se atônita ante a estranha figura que repousava pacificamente estendida sobre o chão de seus aposentos. Perplexa a menina tenta levantar vagarosamente, para que num cuidadoso e súbito movimento pudesse se esvair dali a procura de alguma razão. Irrompera cuidadosamente em um salto de sua cama em direção da porta e a abriu, essa não se opôs de nenhuma forma ao comando da jovem, porém obedeceu rangendo um lamento vagaroso, por trás do solícito corpo de madeira, encontrava-se nada mais que uma densa e maciça parede -- O que significaria isso? – Interrogou o vazio assustada, não poderia de nenhuma forma ser real. Movida pelo assombro, rumou em direção a janela atrás das cortinas bailarinas, a abriu depressa enquanto fechava os olhos e como um gato lançou seu corpo para o exterior.

Sentiu um pesado impacto sobre seu dorso, qual a fez concluir que chegara ao solo, permaneceu ali por algum tempo com os olhos fechados, sua mente agora já se encontrava totalmente desperta e essa estranha manhã já lhe trazia emergida em medo. Decidiu abrir os olhos lentamente, deixando a luz amena invadir suas retinas, aos poucos foi reconhecendo as formas que a cercara, com os olhos totalmente abertos e cheios de alarme, sentiu-se tomada por estranhas sensações ao perceber que estava estirada sobre o frio chão de seu quarto.  Envolta pelo obscuro manto da confusão, tentou lançar-se novamente à janela, uma, duas, três vezes... Sempre obtendo o mesmo resultado.

Assustada proferiu algumas palavras, a fim de emitir seu horror àquela situação incomum. Voltou sua atenção para as coisas a seu redor, talvez a procura de algo que pudesse explicar tamanho desvario, tudo estava como deviria, exceto a inanimada figura alocada ao lado de sua cama. Chorou e gritou esperando alguém vir a seu socorro, nada adiantou, até parecia que ela, o quarto e a pintura viva de uma janela eram as únicas coisas existentes, lá fora nenhum sinal de vida a manhã se fazia mais cinza, a brisa mais fria e as flores mais mortas, um imenso campo no tom marrom se estendia até tocar o céu na distante interseção do horizonte.  

Lembrou-se do telefone e rapidamente se dirigiu a ele, em seu lugar apenas o vazio, -- Seria possível? Um sonho talvez? – Sem nenhuma alternativa, reparando que o objeto ainda se encontrava ali imóvel, avançou sobre o mesmo, percebeu o pequeno rio rubro que brotava daquele corpo inerte, com cautela se pôs a examinar a figura, reconhecendo-a, era um cadáver, uma pessoa, mas quem seria? Os longos cabelos castanhos dificultavam a visualização de seu perfil, porém a bela silueta lhe era extremamente familiar, aproximando-se horrorizada do ensanguentado pedaço de carne, se pôs ao reconhecimento da mulher que dormia pacificamente, sem emitir nenhuma sonoridade, Alice dominou o temor e decidiu mudar o decúbito em que a mulher descansava, ao se deparar com sua face entregou-se ao desespero, ali naquele chão estava Alice inerte abraçada ao derradeiro e eterno sono.

Gritos jorravam com esforço de sua garganta, enquanto banhava-se com seu próprio sangue, em meio aos seus bramidos ouviu o cantar da porta qual abria lamentosa atrás de si, ao voltar os olhos em sua direção se deparou com a enfermeira que lhe trazia sua medicação diária adentrando em seu quarto de paredes mortas em tom de cinza, a mulher lança um olhar de desapontamento sobre Alice, fazendo-a tomar seus remédios, a menina olha em volta relutante contemplando o vazio de um quarto de hospício em que não se achava nada além dela, uma enfermeira, sua cama e o feraz desvario de uma jovem consumida pela insanidade, soluçante se pôs a dormir.




Rio de Janeiro, 12 de junho de 2011.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Vozes




Vozes



Pelos degraus das cores
A vida se impôs exaurível
No falar que surgia da voz
De um translúcido vagante.
Não pelo tom elegante
Ou pelo bailar de belas letras,
E sim por trazer no vago peito
A esperança no amanhã.

Também saltou fervilhante
Com opulento som bravio
Da voz a soar marulhante
Em um temeroso idílio,
Onde os versos que o ungia
Eram as lâminas de fio fino
A retalhar o amor de outrora
O espalhando pelo chão.

Viu-se por estes degraus
Um sentimento a sucumbir,
O fremir da hostilidade
E o voar de pensamentos,
Porém o que esteve tácito
Em meio ao afago do vento
Foi o sorrateiro adejar
De um uníssono lamento.




Rio de Janeiro, 27 de maio de 2011.

Entre ondas e pensamentos (Indriso II)


(Imagem; Mar Bravio, autor desconhecido) 


A noite imerge-se num bailar angustiante de horas...
Definho eu em pensamentos espargidos pelo chão!
Alva neblina me abraça lançando o olhar ao esmaecer

Negando imagem línea que limita o gigante azul.
Do mar de luz quero ver as ondas bravias,
Impulsionando o frágil barco a suportar

Os impropérios que permutam essa vida,

De velho lobo sob as estralas a velejar.



Rio de Janeiro, 03 de junho de 11.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Angústia



(Imagem: Anxiety; Edvard Munch)



No ventre fecundo
De idéias alheias
Que engloba vidas,
Diferencia sonhos,
Sublima o encontro
Do eu no outro,
Em cada olhar
Que me atravessa...
Estou no que grita,
Que canta em noite fria,
No que se cala com o dia,
Ou à morte aos poucos
se entrega.


26 de Fevereiro de 2010.

Vestida de luz



(Imagem: Mulher Vestida de Luz; Autor: Dominique LeComte)



Vestida de luz


Caminhar soslaio de tão pura menina,
Em pequenos passos a ressoar,
Diante de olhos distantes e famintos
Tão longe que a infante não pudera notar.

Cantava e pulava lúdica, distraída,
E os olhos a segui-la por tudo o caminho,
Desejando a pele doce e sadia.
Tocar os cabelos em tal desalinho.

Notam então no sorriso a malícia,
Da menina a dançar em suave brisa.
Rodopia a bela enquanto a noite silencia.
E aos olhos ocultos; do amante castiga.

A luz da lua punge-lhe os seios,
A chamarem para si toda atenção...
Convidam os olhos a bailar em enleios.
Com o ritmo aumentado do coração.

Despiu-se agora a bela menina,
Os olhos sedentos são, só coração.
Sequiosa boca se encontra na dança!
O peito arrebenta de tanta emoção.

Corpo divino, de casta alvura,
Balança e aquece o pensar do amante,
A menina vestida com luz da lua
Faceira diverte-se com o olhar errante!  

sábado, 30 de abril de 2011

Úbere tristeza


(Imagem: Tristeza; Autor desconhecido)

Úbere tristeza à ânsia da noite
me guardas desperto
sem medo, sem sono e sem dono
mas por fim com o assombro
de ver-te tomar tal tortuosa via,
não a mais escura, contudo a mais fria
qual a sentinela é a agonia.

D’angústia os sonhos se perderam
E quimera nasceu ditosa,
A devorar a agrura de minha idéia.

Monstro da noite
Deixe-me aqui
pra ver por ventura uma idéia surgir
poder descansar já não pretendo,
entretanto não quero divisar tua figura!
Dando vida a este tormento.



Duque de Caxias, 23 de Julho de 2009.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Noites claras


(Imagem: Insônia; Autor desconhecido)


Despido da razão qual me assola
Vago na estrada do desconhecido,
Pelos caminhos do pensar
Ou no beco dos segredos.
Nem sonhos me são permitidos,
Ou mesmo o amar pueril.
Na dor se faz escondido
O cantar que vivia outrora.

Eis! O calar rememora
No lar da sofreguidão silente!
Pois, o canto calado outrora
Mantinha esse ser vivente
Agora resta apenas o fantasma
A ladrar nas noites frias,
A depositar o confio das lágrimas
Aos cuidados da muda poesia.

E mesmo a musa que antes sustinha
O antigo peito enamorado,
Não cabe nos versos quadrados
De uma doce melodia
E nem há de correr pelos seios
Da antiga inspiração.
Perdendo-se na frieza
Das noites à luz acesa
A celebrar a solidão.

O metrô


(Imagem: O metrô; autor desconhecido)




O metrô avança um metro sem sentido
Por de baixo do concreto pensamento
Transportando incertezas sem destinos,
Libertando da distância a consciência.
O metrô desfaz o ciclo do destino
E propõe o refutar do espaço-tempo.
Leva o sonho pela beira do abismo
Revelando o desvio do intento,
O metrô transcende as gotas flutuantes,
Na clareza do espelho que nos cerca
Dá idéia de universo escuro e infindo,
Porém, apenas é o limite o que reflete.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Arquiteto de ruínas






Arquiteto de ruínas sou,
Tão avesso as construções
Amargando ao coração
Que por abrigo me tomou.

Atando-me a pobreza
De minha parca mente
Ao olhar que vem dolente,
D’onde só resta a aspereza.

Contento, sinto ao ver o marrom,
De folhas a se lançarem de árvores
Caindo solenes e breves,
Por ter do verde perdido o tom.

Sublimo o céu que cinza
Reflete o que trago dentro,
O sentir de leve afila,
Não desfruto de proventos.

Portanto andando vou,
Tão avesso a emoções
Decrépita construção
Arquiteto de ruínas, sou!



Rio de Janeiro, 22 de Fevereiro de 2010.

Canto do boêmio à rainha negra





Chega a noite com seus negros olhos

Convidando-me a bailar sob estrelas,
Acendendo em meu peito a centelha
Da vida que se fazia silente.

Enamora-me esta rainha negra.
Que fremente invade meu ser
Traz em seu colo o colar d’estrelas
Qual faz minha tristeza fenecer.

Remexe-se com graça de deusa,
Em meio à harmonia suave
Cantada pela voz mansa do vento
Mesclada com o silenciar das aves.

Em seu fulgente peito remoço
Prostrado ante, majestosa luz.
Da perfeição tu és o bosquejo
És a egéria que meu cantar conduz.





Duque de Caxias, 18 de abril de 2011.

domingo, 17 de abril de 2011

Lamúrias de um louco.: Cantigas de sereias

Lamúrias de um louco.: Cantigas de sereias: "Chegava o poeta das terras áridas,Não cabiam nele os frutos da arte,Por onde fosse a qualquer parteCantava seus sonhos em versos.Em nota..."

Lamúrias de um louco.: O silêncio

Lamúrias de um louco.: O silêncio: "(Imagem: Silêncio; Autor desconhecido) Cinge-me o corpo, etéreo mantoO reflexo abstrato do vazio,O calar das notas vibrantesQuais compunha..."

Cantigas de sereias





Chegava o poeta das terras áridas,
Não cabiam nele os frutos da arte,
Por onde fosse a qualquer parte
Cantava seus sonhos em versos.
Em notas, bradava o excesso
Da tristeza que lhe enchia o peito.

Era como o amor-perfeito
Despetalado na primavera.
Nutria em sua alma quimeras,
Amargava o coração com saudades,
Nem sempre havia a vontade
De ver despedaçadas as pétalas.

Como já dito era poeta!
E como tal vivia entre dúvidas
De viver em noites dúbias,
Ou volver ao seio amado?
O pensar voava abrasado
Fustigado em fedo tormento.

Restava-lhe somente o lamento
Entre as cores dos tons menores.
Tão-somente em meio às vozes
Das cantigas de sereias
Quais cantavam nas areias.
De seu castelo destruído.



Rio de Janeiro, 14 de abril de 2011.

domingo, 10 de abril de 2011

O silêncio


(Imagem: Silêncio; Autor desconhecido)


Cinge-me o corpo, etéreo manto
O reflexo abstrato do vazio,
O calar das notas vibrantes
Quais compunham o estrugido.
Que outrora se ouvia em montes,
Ecoando por campos verdejantes,
Dando alento e abrigo aos sonhos.
Resta agora apenas o calar,
Dum copo vazio em minha frente,
Uma porta que se acha destrancada
E a certeza que ninguém irá entrar.



Rio de Janeiro, 21 de julho de 2010.




Dedos gélidos



(Imagem: Espelho; Autor desconhecido)


Os gélidos dedos da noite
Tocam minha pele pura,
Destilam o pensar vazio
Detém a vida que passa.

Por ruas sujas caminho
Sem saber qual é o vetor,
Amiúde se vai o destino
Por entre labiríntico torpor.

A luz me cega os olhos,
Que vagam no deserto
Fitam amigos ilusórios
De meu mundo irrequieto.

Quem é esse que me olha,
Que reprova minhas ações,
Que se esconde no negrume,
Se desviando desse lume
Por fastias sensações?

Reconheço esses olhos,
Esse corpo em pleno açoite,
O pensar que se perdeu,
Este a me julgar sou eu.
Tocado pelos dedos da noite.





Rio de Janeiro, 20 de junho de 2010.